Univates participa de estudo internacional que avalia efeitos do zika vírus em crianças

Dr. André Anjos da Silva, professor de Medicina e pesquisador aparece em estudo internacional que foi publicado na revista Frontiers in Genetics, principal periódico da área da genética
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Professor André Anjos. Foto: Artur Dullius

Pesquisador da Univates participa de estudo internacional que avaliou o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao zika vírus. O doutor André Anjos da Silva, professor do curso de Medicina e pesquisador associado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Universidade do Vale do Taquari – Univates, é um dos investigadores que participaram de um estudo internacional que analisou o neurodesenvolvimento de crianças expostas ao zika vírus.

O estudo amplia a compreensão dos efeitos do zika vírus congênito no desenvolvimento neurológico das crianças afetadas; o conhecimento dos efeitos neurológicos em crianças infectadas pelo zika vírus congênito, mesmo nas que não apresentam microcefalia; a avaliação dos diagnósticos diferenciais para microcefalia, ou seja, apresentar outras causas de microcefalia além do zika vírus congênito; e a abordagem sobre o aspecto molecular da microcefalia, ou seja, quais genes estão possivelmente implicados na rota causal dessa malformação congênita.

Também é apresentada a necessidade de atitudes preventivas e políticas públicas para combate e controle do mosquito transmissor e das infecções virais. A novidade da análise proposta pelos pesquisadores é a abrangência temporal do estudo, uma vez que os primeiros casos de microcefalia e de Síndrome Congênita do Zika (SCZ) têm, agora, entre cinco e seis anos, o que permite a avaliação da extensão dos impactos da infecção congênita nas crianças.

A pesquisa, uma revisão de literatura abrangente sobre o tema, foi publicada na revista Frontiers in Genetics, envolvendo 16 instituições de ensino e pesquisa, nacionais e internacionais, e 28 pesquisadores.

Zika vírus transmitida na crianças pelo mosquito

O zika é uma doença causada pelo zika vírus, que é transmitido pela picada de um mosquito. Na maioria dos casos, não há nenhum sintoma. Em alguns casos, o zika pode provocar paralisia (síndrome de Guillain-Barré). Em gestantes, pode causar defeitos congênitos subsequentes no feto, como microcefalia ou Síndrome Congênita do Zika. Cerca de 90 países e territórios apresentaram evidências de transmissão natural (autóctone) do vírus zika (ZIKV) por mosquitos, e mais de 30 países relataram casos de microcefalia ou SCZ.

A incidência de infecção por ZIKV nas Américas atingiu o pico em 2016 e diminuiu a partir de então. A Organização Mundial da Saúde (Organização Pan-Americana da Saúde/OMS) contabilizou quase um milhão de casos na região das Américas, tendo o Brasil o maior número de casos. Não há vacina disponível para prevenir a infecção por ZIKV ou tratamento antiviral eficaz. Portanto, medidas preventivas em nível comunitário, como medidas individuais, são a chave para reduzir o impacto da doença na população.

Entendendo a pesquisa de crianças e o zika vírus

Cinco anos após a identificação do vírus zika como um teratógeno humano ‒ agente físico ou estado de deficiência que, estando presente durante a vida embrionária ou fetal, produz uma alteração na estrutura ou função da descendência ‒, os autores do estudo recente revisaram as manifestações clínicas iniciais, coletivamente chamadas de Síndrome Congênita do Zika. Crianças com SCZ têm um prognóstico de desempenho baixo nos domínios do desenvolvimento motor, cognitivo e de linguagem, e praticamente todas apresentam formas graves de paralisia cerebral.

No entanto, essas manifestações são a ponta do iceberg, com algumas crianças apresentando formas mais leves de déficits. Além disso, o neurodesenvolvimento pode estar na faixa normal na maioria das crianças não microcefálicas nascidas sem anormalidades cerebrais e oculares. A transmissão vertical e a consequente interrupção no desenvolvimento do cérebro são muito menos frequentes quando a infecção materna ocorre na segunda metade da gravidez.

Estudos experimentais alertaram para a possibilidade de outros desfechos comportamentais tanto em crianças infectadas no pré-natal quanto em infecções pós-natais e em adultos. Os cofatores desempenham um papel vital no desenvolvimento da SCZ e envolvem determinantes genéticos, ambientais, nutricionais e sociais que levam à distribuição assimétrica dos casos. Algumas dessas variáveis sociais também limitam o acesso ao tratamento profissional multidisciplinar.

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Conclusões do estudo: ampliando o conhecimento

“Esse artigo contribui com a ampliação da forma como se avaliam os efeitos do zika vírus congênito e as consequências da microcefalia, além de outras possíveis complicações e malformações associadas a essa infecção no período gestacional”, explica o professor doutor André Anjos. Ele complementa que a principal ideia é ampliar o conhecimento sobre o assunto, não somente sobre a microcefalia em si, causada pela infecção congênita de zika, mas também sobre a evolução desses pacientes ‒ agora que já se tem pelo menos 5-6 anos de conhecimento sobre a síndrome do zika vírus congênito.

O estudo é importante para estabelecer que esse é um problema de saúde pública e que não fica apenas como fato histórico. “Isso pode voltar a acontecer sempre que não tivermos atenção às atitudes preventivas para combate e controle do mosquito transmissor e das infecções virais (nesse caso, especialmente no período gestacional). Além disso, alerta mais uma vez para a importância do planejamento gestacional e para todos os cuidados que esse momento necessita”, avalia o pesquisador.

Além disso, é possível compreender que os efeitos do zika vírus congênito não se limitam à microcefalia (efeito mais evidente e mais conhecido), mas podem gerar outras complicações graves no sistema nervoso, visuais, sistema locomotor, entre outros. “Temos os casos que inclusive não apresentam microcefalia, mas que por conta da infecção congênita desenvolvem alterações de desenvolvimento, deficiência intelectual ou outros efeitos neurocomportamentais tardios ‒ que agora, passados alguns anos das primeiras infecções, são possíveis de identificar”, diz Anjos.

“Com o estudo, compreendem-se as múltiplas consequências que podem ocorrer a partir da infecção congênita pelo zika vírus e seu impacto clínico e social, entendendo que as alterações no neurodesenvolvimento causadas por esse agente podem se tornar um problema de saúde pública, mas há a possibilidade de prevenção e cuidados específicos”, relata o pesquisador.

Envolvimento de Anjos com a pesquisa na área neurológica em crianças infectadas pelo zika virus

O envolvimento do pesquisador com estudos em teratologia, ramo da ciência médica preocupado com o estudo da contribuição ambiental ao desenvolvimento pré-natal alterado, ou seja, estuda as causas, mecanismos e padrões do desenvolvimento anormal, vem desde o doutorado. “Foi quando estudei com o grupo de pesquisa os possíveis efeitos teratogênicos do vírus H1N1, entre 2009 e 2012. No pós-doutorado, em 2016, nos deparamos novamente com uma questão de saúde pública e com potenciais efeitos em malformações fetais, o zika vírus”, explica.

O pesquisador fez parte de um grupo composto por diversos cientistas nacionais e internacionais que descreveram o espectro completo dos efeitos teratogênicos do zika (síndrome do zika vírus congênito). Foram observadas 83 crianças oriundas de diversos centros brasileiros. “Agora, parte desse grupo, junto com outros pesquisadores, se dedicou a avaliar os efeitos tardios do zika vírus, com as implicações no neurodesenvolvimento, além de entender os efeitos em pacientes que apresentaram infecção congênita, mesmo sem ter a microcefalia em si”.

Instituições envolvidas no estudo

Anjos representa a Univates. Também participaram do estudo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), de Porto Alegre; o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA); a University of California San Diego e o Rady Children’s Hospital San Diego, de San Diego, Estados Unidos; o Neonatal Neurology (NeNe Foundation), de Madri, Espanha; a Fundação Altino Ventura e o Hospital Barão de Lucena, de Recife; o Hospital Infantil Albert Sabin e a Universidade Estadual do Ceará, de Fortaleza; o Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo, de Goiânia; a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), de Recife; o Centro Universitário Cachoeirinha (Cesuca), de Cachoeirinha; a Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Rio de Janeiro; a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo; a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), de Porto Alegre; e o Centro Universitário do Espírito Santo (Unesc), de Colatina.

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