Luiza Trajano, diretora da Magalu, pede “Venha para loja, por favor” e ação sobe na bolsa. Em meio ao aumento das taxas de juros e aperto das condições de financiamento, o Magazine Luiza (MGLU3) anunciou que vai oferecer crédito pré-aprovado para mais de 10 milhões de clientes. A campanha tem como alvo clientes da empresa que se adequam aos critérios de concessão de crédito estabelecidos pela própria companhia e pela financeira do grupo, a LuizaCred, uma parceria com o Itaú.
Diante da repercussão, os papéis da companhia chegaram a subir 10,43% na máxima do dia, voltando para o patamar acima dos R$ 3 (R$ 3,07). Contudo, viraram para queda durante a tarde, em um movimento seguido por todo o setor e pelas techs após a Bloomberg informar que a empresa planeja diminuir o crescimento de contratações e de gastos no próximo ano em algumas unidades para lidar com uma possível desaceleração econômica. Os papéis MGLU3 fecharam em leve baixa de 0,36%, a R$ 2,77.
Até esta tarde, cerca de 5 milhões de clientes com esse perfil já tinham recebido material de comunicação dirigida, que inclui um vídeo protagonizado por Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magalu.
O vídeo, porém, ganhou as redes sociais nesta segunda-feira mesmo sem uma postagem oficial do Magazine Luiza, e veio acompanhado de críticas sobre um suposto desespero da empresária com as vendas em baixa.
Luiza Trajano Magalu bolsa
Campanha de vendas da Luiza Trajano na bolsa
Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), a estratégia é ousada, verdadeira e com “a cara do Magalu”. Ele lembra que a empresa tem buscado usar mais “a figura de Luiza Trajano, que é cheia de verdade e com baixíssima rejeição como ferramenta de vendas”.
Para ele, apesar das críticas duras que o vídeo tem recebido, o investidor do papel dificilmente vai olhar para o conteúdo e associá-lo a um desespero. “É um momento em que o varejo todo está precisando de estratégias criativas e isso está gerando repercussão”, afirma.
No vídeo, Luiza fala do crédito pré-aprovado para clientes e convida o público a ir às lojas. “Vai ser no carnê. Lembra aquele ‘carnêzinho gostoso’? Em prestações que você pode pagar e a gente ainda vai dar um descontinho nos juros. A gente aguarda vocês. Vá o mais rápido possível a uma de nossas lojas, por favor”, diz a presidente do conselho da companhia no material enviado aos clientes e compartilhado nas redes sociais.
“Grande parte dos brasileiros depende de crédito para continuar a consumir”, diz Frederico Trajano, CEO do Magalu. “Num momento como o atual, a tendência é que as empresas cortem suas linhas. Mas nós sabemos, por meio de nosso sistema de dados e análise, que há mais de 10 milhões de clientes na nossa base que têm todas as condições de honrar seus compromissos. Queremos que essas pessoas saibam que podem contar com o Magalu em todos os momentos, principalmente nos mais difíceis.”
A companhia não comentou as críticas de internautas à companhia, que envolvem ainda associações de Luiza com o pré-candidato à presidência da república pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a companhia, a campanha do Magalu privilegia os clientes das quase 1,5 mil lojas físicas da empresa, distribuídas por todo o Brasil.
Apesar da volatilidade na sessão, as ações do Magalu registram um mês de ganhos na Bolsa, de cerca de 20%, principalmente em meio a um movimento de rotação de ativos de valor (como de commodities) para de crescimento (como techs e varejistas).
Contudo, analistas ainda estão bastante reticentes sobre o cenário para as varejistas de eletrônicos em geral na Bolsa, o que inclui Magazine Luiza. No acumulado do ano, os papéis ainda caem 61%, em um cenário de maior concorrência e inflação alta.
A XP destaca que, para os resultados do segundo trimestre de 2022, em e-commerce, espera uma dinâmica de resultados semelhante ao 1T22, com recuperação do varejo físico, enfraquecimento do canal online de estoque próprio (1P) e desaceleração de crescimento do marketplace (3P) devido ao cenário macro desafiador, base de comparação desafiadora e ajuste de canais frente à normalização do consumo fora de casa.
“Esperamos que as companhias continuem apresentam recuperação de margem, decorrente a um ambiente competitivo mais racional e mix de canais, mas devemos continuar a ver uma dinâmica de lucro pressionado por conta de margens ainda apertadas e aumento de despesas financeiras devido à alta de juros”, aponta a equipe de análise. A recomendação para os ativos MGLU3 é neutra.
Ainda no radar do setor, as vendas no varejo em junho de 2022 cresceram 5,9%, descontada a inflação, em comparação com igual mês de 2021, aponta o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA). Apesar da alta, foi o terceiro mês seguido de perda de força. Em termos nominais, que espelham a receita de vendas observadas pelo varejista, o indicador apresentou alta de 22,8%.
Segundo a Cielo, o aumento das vendas está associado com a base comparativa de junho do ano passado, período em que o comércio ainda sofria restrições por causa da covid-19. Os efeitos de calendário tiveram pouca interferência no resultado: embora tenha havido uma quinta-feira a mais (dia de comércio mais aquecido) e um terça-feira a menos (data em que as vendas costumam ser mais fracas) que em junho do ano passado, o impacto em volume de vendas devido ao feriado de Corpus Christi este ano foi maior, o que compensou o mix de dias.
Luiza Trajano Magalu bolsa