Inovação alimentar nas prateleiras dos supermercados do Brasil

Já imaginou entrar no mercado e escolher diferentes cortes de carnes, que foram “impressos” por meio de tecnologia biológica? Sim, isso já está sendo estudado e teremos esses produtos nos próximos anos aqui no Brasil.
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Já imaginou entrar no mercado e escolher diferentes cortes de carnes, que foram “impressos” por meio de tecnologia biológica? Sim, isso já está sendo estudado e teremos esses produtos nos próximos anos aqui no Brasil. Considerando a expectativa de aumento da população mundial, que deve atingir quase 10 bilhões de pessoas até 2050, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são desenvolvidas cada vez mais proteínas alternativas para complementar as fontes que temos atualmente. A corrida para alimentar a população de maneira mais sustentável foca também na já disponível gama de produtos plant-based e em carne cultivada para os próximos anos.

Outra pesquisa, da Allied Market Research, com dados de 2020, aponta o quanto o mercado de proteínas alternativas é promissor, já que representa globalmente uma estimativa de faturamento de mais de US$ 2 bilhões até 2027. Neste contexto, é importante perceber como a indústria e o agronegócio avançam em novas tecnologias e soluções para atender públicos cada vez mais diversos e com necessidades específicas. Se falarmos em futuro, estamos a poucos passos em direção a uma grande mudança em como as pessoas vão se alimentar.

Um exemplo muito recente, que será realidade em breve aqui no Brasil, é o desenvolvimento e produção de carne cultivada – proteína produzida com a obtenção de células de alta qualidade de animais e não necessita do abate. As células são cultivadas em biorreatores, com nutrientes e ambiente propício para o seu desenvolvimento. Estima-se que esse mercado representará um terço do mercado global de proteínas animais até 2040. Além disso, reduz o uso da terra em 95% e as emissões de gases em até 87%. Água e energia também são utilizadas em menor quantidade, já que, segundo a Aleph Farms, startup israelense especializada nesse tipo de produção, o processo leva de 3-4 semanas para concluir seu ciclo, comparado aos 24 meses da pecuária bovina.

Outros produtos alternativos são os “no meat, que têm base vegetariana e são feitos de grãos, com condimentos naturais e sem glúten, atendendo aos valores nutricionais diários que devem estar presentes em cada refeição. Entre as principais fontes de proteínas alternativas estão a ervilha amarela, o grão de bico e o feijão carioca. Esses grãos, além de ricos em minerais e vitaminas do complexo B, são fontes de proteínas de alta absorção. Passam por diferentes etapas e processos, que garantem a textura e o corte cada vez mais semelhantes aos alimentos de origem animal, contribuindo diretamente para o incentivo à biodiversidade e ao aumento das práticas agrícolas regenerativas, eliminando o desmatamento e restaurando os ecossistemas naturais.

Esse tipo de alimento traz ganhos em proporções globais que reduzem em até 250 vezes os gases do efeito estufa, além de permitir a produção de dez vezes mais proteínas por hectare, se comparados à carne animal, e 60% a menos do consumo de água de quem adota a dieta à base de vegetais.

Se vai haver muitas mudanças? Isso com certeza! A transição para sistemas alimentares mais resilientes deve incluir colaborações de parcerias com os agricultores para promover sua prosperidade e introduzir novas possibilidades de negócios, além de apoiar mudanças nos processos. Essa transformação é uma oportunidade para os produtores desenvolverem novos fluxos de receita ao lado da produção convencional, já que as proteínas alternativas vêm para somar ao que já temos disponível hoje. As empresas seguem com suporte e investimento em produtos locais, além de capacitar comunidades.

Essa transformação fortalece a jornada de inovação e oferece alternativas de escolha aos consumidores, buscando eficiência e o menor impacto na cadeia produtiva. Além disso, as novas gerações alternativas devem impulsionar ainda mais as pesquisas científicas no Brasil, o que é extremamente importante para a comunidade acadêmica.

O futuro está logo ali e estamos ansiosos para desfrutar de uma boa comida, seja de plantas ou bovinos, mas que possa alimentar o mundo, gerar uma mudança de cultura e pensamento e trazer soluções para as questões sensíveis de sustentabilidade. A virada de chave está à uma porta de distância. Você vem junto?

Sérgio Pinto, diretor de Inovação da BRF