O poder do chimarrão na comunicação empresarial – Em algumas empresas, o chimarrão é visto como uma distração — uma prática proibida durante o expediente. O argumento? A perda de produtividade ou a suposta desorganização, conversas paralelas ao trabalho, que uma roda de mate pode causar.
Já em outras organizações, o chimarrão não só é permitido como é incentivado. Antes ou depois de mergulhar nas tarefas do dia, equipes se reúnem em torno da cuia, compartilhando não apenas a bebida, mas ideias, desafios e soluções. Nesse momento, as hierarquias se dissolvem: o estagiário e o diretor viram companheiros de roda, trocando experiências em um ambiente descontraído.
Há algo quase mágico nesse ritual.
A pausa para o mate não é apenas um intervalo, mas um espaço de conexão autêntica. A comunicação flui de maneira orgânica — às vezes, nem é preciso falar. A forma como alguém segura a cuia, o olhar atento, o silêncio compartilhado, tudo transmite significado. E, nesse clima, insights surgem, problemas são identificados e soluções são cocriadas.
Herança indígena, legado coletivo
Os povos Guarani, Kaingang, Charrua e outros já sabiam do poder dessa bebida. Para eles, o ka’a (erva-mate) era mais que um estimulante: era moeda de troca, remédio, elemento ritualístico e símbolo de união. Quando os colonizadores chegaram, tentaram proibi-la, chamando-a de “erva do diabo”.
Mas, ao perceberem que o mate reduzia o alcoolismo entre os indígenas, os próprios europeus adotaram o hábito — refinando-o com cuias e bombas de metal.
No entanto, hoje, o chimarrão (do espanhol cimarrón) resiste como um elo entre passado e presente. Como diz o gaúcho: “Quando a água chiar, desliga a chaleira — a água tá no ponto.” Os 70°C preservam nutrientes e criam a cremosidade perfeita, mas também simbolizam um cuidado que vai além do preparo: é sobre respeitar o ritual e quem compartilha dele.
Possível comprovação científica
Não se trata apenas de tradição ou empirismo. Pesquisas e teóricos reforçam o valor dessas pausas coletivas: Victor Turner (“The Ritual Process”) fala da communitas — um estado de igualdade temporária que rompe hierarquias, facilitando diálogos mais abertos.
Sherry Turkle (“Reclaiming Conversation”) defende que interações presenciais, sem telas, fortalecem a empatia. O chimarrão, ao exigir pausas para encher a cuia e contato visual, opera nessa lógica.
Estudos do MIT Human Dynamics Lab mostram que equipes com momentos informais de interação resolvem problemas 20% mais rápido. Edgar Schein (“Organizational Culture and Leadership”) lembra que rituais reforçam valores compartilhados.
Chimarrão e comunicação empresarial
Uma empresa que abraça o chimarrão pode estar cultivando confiança e colaboração. Isto transforma o cotidiano em poesia e a conversa em solução. E, no ambiente corporativo, onde pressa e formalismo muitas vezes emperram a inovação, talvez essa seja justamente a lógica que falte.
Cada roda de chimarrão é um convite à paciência, ao respeito e à escuta ativa. Afinal, quem está com a cuia na mão, não deve contar longas histórias e sim ouvir mais do que falar. E nesta lógica, todos têm a sua vez. Vai um chima aí?
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