Números do primeiro trimestre nos EUA acendem alerta global

Números do primeiro trimestre nos EUA acendem alerta global

* Por Thiago Maurique

Efeito Trump: queda no PIB americano surpreende, pressiona mercados e cria cenário de risco — mas também pode representar oportunidades para empresas brasileiras.

A desinformação custa mais caro que uma bolsa de luxo
Thiago Maurique é jornalista e sócio do Valores do RS

O primeiro balanço da economia dos Estados Unidos em 2025 trouxe grande preocupação para investidores e governos ao redor do mundo. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) americano surpreendeu o mercado com uma queda 0,3% no primeiro trimestre, frustrando a expectativa de crescimento de 0,8%. O pior desempenho desde 2022 trouxe impacto foi imediato, com bolsas em queda, clima de incerteza e temor de contágio sobre o restante da economia global.

O número marca uma guinada em relação à alta de 2,4% registrada no último trimestre de 2024 e reflete diretamente os efeitos das mudanças de rumo promovidas no segundo mandato de Donald Trump. A nova rodada de tarifas sobre importações, especialmente da China, aumentou as tensões comerciais e gerou instabilidade entre consumidores e empresas, trazendo com reflexos diretos para atividade econômica da maior economia do mundo.

As importações dispararam 41,3% no trimestre com as empresas antecipando compras para evitar as tarifas impostas por Washington. Do outro lado, as exportações cresceram apenas 1,8% e o descompasso causou o maior impacto negativo do comércio exterior sobre o PIB americano desde 1947. O consumo das famílias — principal pilar da economia dos EUA — desacelerou para 1,8%, ante 4% no trimestre anterior. Os gastos do governo, outro motor econômico norte-americano, encolheu 5,1%.

Números do primeiro trimestre nos EUA acendem alerta globalEntre os poucos indicadores positivos, o desemprego segue em 4,2%. O investimento empresarial cresceu 9,8%, mas reflete a tentativa de se antecipar a futuros aumentos de custos provocados pelas tarifas. Ainda não se pode falar em recessão, que tecnicamente ocorre quando o resultado do PIB cai por dois trimestres seguidos. Mas a sensação de incerteza já provoca maior cautela das empresas e redução dos gastos por parte dos consumidores.

Para o Brasil, os sinais vindos da maior economia do mundo merecem atenção redobrada. Um desaquecimento prolongado nos EUA pode reduzir a demanda por commodities como soja, minério e petróleo — principais itens da pauta exportadora brasileira. Também tende a pressionar os fluxos de capital para mercados emergentes, encarecendo o crédito e elevando o dólar, efeito que já pode ser percebido hoje.

Ao mesmo tempo, há espaço para movimentos estratégicos. Empresas brasileiras com estrutura exportadora têm a chance de ocupar nichos abertos pela guerra comercial entre Estados Unidos e China. Alimentos, insumos industriais e matérias-primas estão entre os itens mais demandados pelas grandes potências em disputa. Além disso, num cenário global de incertezas, companhias brasileiras com boa governança e resultados consistentes ganham atratividade junto a investidores internacionais.

As dificuldades provocadas pela política econômica dos Estados Unidos precisam ser encaradas como uma chamada à racionalidade. Esse é o principal desafio em um país polarizado, onde frequentemente a ideologia se confunde com a estratégia. A paixão política pela figura de Donald Trump está presente em parte significativa do empresariado brasileiro, que ainda busca encontrar sentido e significados secretos nas ações do mandatário.  Talvez esse seja o efeito mais danoso da escalada do republicano à Casa Branca. Quando a razão dá lugar ao fanatismo, até as oportunidades passam despercebidas.

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