A desinformação custa mais caro que uma bolsa de luxo
Vídeo viral sobre bolsas de grife revela mais sobre nossas crenças do que sobre os custos de produção

Viralizou nas últimas semanas um vídeo em que um suposto fabricante chinês revela os custos de produção de uma bolsa da Hermès. Vendida por 38 mil dólares, ela teria um custo de fabricação de apenas 1,5 mil. A comparação soa plausível e retrata algo comum no mercado globalizado: a produção de peças de alta moda em países com mão de obra mais barata, e a supervalorização das marcas.
Apesar desse fundo de verdade, o vídeo foi compartilhado milhões de vezes sem questionamentos. Quase ninguém quis saber se os valores estavam corretos, se os fornecedores realmente existiam ou — o mais grave — se o tal chinês de fato fabricava bolsas. Fato é que nos acostumamos a aceitar como verdade aquilo que aparece na tela, ainda mais quando vem embalado por dados soltos e imagens que reforçam o que já queremos acreditar.
Esse caso ainda carrega um pano de fundo maior: a guerra tarifária entre China e Estados Unidos, que ajuda a impulsionar sua popularidade. Mas, acima disso, escancara a facilidade com que acreditamos em tudo que confirma nossas convicções. Esse comportamento é o que sustenta a propagação de fake news. De boatos sobre o fim de relacionamentos entre famosos a falsas valorizações de ativos digitais, passando por distorções sobre efeitos colaterais de vacinas — tudo pode virar “verdade” aos olhos de quem quer acreditar.
O problema se agrava quando decisões importantes se baseiam nessas pequenas mentiras. Falsas evidências levam empresários a investimentos equivocados que colocam em risco a sobrevivência do negócio. Quando falamos de governantes, o desastre recai sobre a população. Já vimos isso acontecer — de investidores que perderam fortunas em ativos inflados por rumores, a nações que apostaram em teorias sem fundamento científico e pagaram caro por isso (basta lembrar as milhões de mortes que teriam sido evitadas na pandemia se os cientistas fossem levados mais a sério).
No fim, o vídeo da bolsa de luxo — e tantos outros com o mesmo viés — mostra mais do que a diferença entre custo e a valorização artificial de um produto. Evidencia, sim, o preço real da desinformação. Se uma bolsa pode valer 38 mil dólares apenas pela força da marca, quanto custa para uma pessoa, uma empresa ou um país inteiro acreditar em uma mentira bem contada?
A desinformação custa mais caro que uma bolsa de luxo