Fim do acordo de grãos na Ucrânia pode favorecer o Brasil. Nesta semana, a Rússia anunciou a saída do acordo de grãos com a Ucrânia, um dos pilares que mantinham os preços dos alimentos estáveis, em tempos de guerra. Principalmente na Europa. O acordo ajudava a Ucrânia a manter suas exportações de grãos e assim abastecer o mercado internacional.
Assinado pela primeira vez em julho de 2022, o acordo, cujo nome oficial é Iniciativa de Grãos do Mar Negro, havia sido intermediado pela Organização das Nações Unidos (ONU), foi estendida repetidamente em pequenos incrementos, em meio ao crescente descontentamento da Rússia com as restrições que limitam o envio total de suas próprias exportações de grãos e fertilizantes. E foi por esse motivo que o presidente russo, Vladimir Putin, decidiu abandonar o acordo.
Mais de 1.000 navios que transportaram quase 33 milhões de toneladas de produtos agrícolas partiram dos portos ucranianos de Odesa, Chornomorsk e Pivdennyi, desgastados pela guerra no Mar Negro.
Os grãos eram destinados a países com maior insegurança alimentar do mundo, como Afeganistão, Etiópia, Somália, Sudão e Iêmen – países que sofrem de forma severa, segundo a FAO – agência da ONU sobre alimentação.
Acordo de grãos: como fica o Brasil nesta história?
O cancelamento do acordo por parte da Rússia fez com que os preços do trigo subissem cerca de 3%, de forma imediata no mercado internacional.
Os preços do trigo sobem nesta quinta-feira (20) pelo terceiro dia consecutivo depois do fim do acordo. Além disso, agora a Rússia ameaça tratar os navios com destino a portos ucranianos como cargueiros militares, aprofundando os temores de uma crise global de segurança alimentar.
O contrato de trigo mais negociado na Bolsa de Comércio de Chicago (EUA) foi negociado pela última vez cerca de 1,4% mais alto, a US$ 0,737 por bushel, marcando uma alta de três semanas.
Por seu lado, o secretário-geral de Organização das Nações Unidas (ONU), Antônio Guterres, lamentou a decisão russa de abandonar o acordo, que era considerado uma espécie de “tábua de salvação” para centenas de milhões em todo o mundo que enfrentam a fome, bem como para aqueles que já lutam com custos crescentes de alimentos.
Já o chefe de política externa da União Européia, Josep Borrell, disse que a decisão da Rússia de sair do pacto colocaria em risco a segurança alimentar global. “O que já sabemos é que isso vai criar uma grande e enorme crise alimentar no mundo”, disse Borrell.
Ingo Ploger, vice-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), disse ao Estadão, que essa restrição pode favorecer o país, bem como vizinhos da América Latina. Isso porque compradores internacionais podem buscar suprimentos em outras regiões, uma vez que a Ucrânia poderá estar bloqueada para acessar os mercados.
O consumo ficará prejudicado, em primeiro lugar, na Europa, que é o principal destino dos grãos ucranianos. Com isso, o Brasil poderá ofertar seus produtos a preços melhores nos principais mercados consumidores por conta desse novo cenário de restrição, avalia Ploger.
Cenário da produção de grãos no Brasil
Com a entrada da fase final da colheita das culturas de primeira safra, a produção de grãos no Brasil no ciclo 2022/23 está estimada em 312,5 milhões de toneladas, o que representa um acréscimo de 40,1 milhões de toneladas quando comparada com a temporada 2021/22 – alta de 15%. No caso da área plantada, é esperado um crescimento de 3,3%, o que corresponde à incorporação de 2,5 milhões de hectares, chegando a 77 milhões de hectares.
Os dados estão disponíveis no 7º Levantamento da Safra de Grãos divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O bom desempenho é explicado não só pelo aumento de área, como também pela melhoria da produtividade de culturas como soja, milho, algodão, girassol, mamona e sorgo. No entanto, o resultado consolidado ainda depende do comportamento climático, fator preponderante para o desenvolvimento das culturas de 2ª e 3ª safras.
A soja segue como o produto com maior volume colhido no país, com uma produção estimada em 153,6 milhões de toneladas. Com índice de colheita em 78,2%, conforme indica o Progresso de Safra divulgado nesta semana pela Companhia, a boa produtividade nas lavouras segue sendo confirmada e está estimada em 3.527 quilos por hectare.
Portanto, tendo em vista o cenário de restrição mundial e a perspectiva de aumento na safra brasileira, o Brasil tem chance de conseguir uma inserção no panorama de venda e fornecimento de grãos no mercado consumidor internacional.