Volátil nos preços, agro é o maior responsável pelo crescimento de 1,9% do PIB no primeiro semestre. O resultado do PIB para o primeiro trimestre surpreendeu positivamente os agentes econômicos. O desempenho puxado sobretudo pelo agronegócio, teve a maior alta dos últimos 27 anos.
O preço dos insumos e custos de produção elevados, devido ao fenômeno La Niña, explicam parte deste número. No entanto, uma das principais causas de o agro ser o carro-chefe do PIB neste primeiro semestre é o aumento da produção de grãos. Para 2023 é esperada uma safra recorde, especialmente de soja e milho.
Se por um lado a “supersafra” aumenta a produtividade e as exportações, ela também ajuda a pressionar o preço dessas commodities para baixo. De acordo com o analista da Toro, Rodrigo Caetano, o volume será tão alto que pode compensar mesmo com preços menores. “Há um volume de produção de safra acima das expectativas. Há uma queda no preço das commodities, mas o volume vem positivo mesmo com preços menores”, afirma.
Por outro lado, o diretor da consultoria econômica LCA, Celso Toledo, o ritmo de crescimento tem surpreendido favoravelmente no mundo inteiro. “Como a economia brasileira é interligada, isso deve estar beneficiando de uma forma ou de outra”, diz. “No final do dia, está claro que a economia brasileira está crescendo um pouco mais.”
Investimento em ativos
No mundo dos investimentos, é importante analisar as correlações entre diferentes ativos financeiros. Embora seja comum pensar que as ações do agronegócio seguem o desempenho das commodities agrícolas, como milho, boi e soja, essa correlação nem sempre é tão clara.
Outros fatores podem influenciar o desempenho desses ativos, como a eficiência operacional, gestão financeira, tecnologia adotada e condições de mercado. Portanto, as relações entre as commodities agrícolas e as ações do setor agrícola podem não seguir um padrão evidente o tempo todo.
Luís Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirma que o agro foi responsável por 1,7 p.p. do crescimento do PIB desta base de comparação. “Esse resultado foi reflexo da safra 22/23 que cresceu 15% com relação a de 21/22 e da sazonalidade que faz com que a produção de soja e parte da de milho seja colhida no 1º trimestre.”
Nessa esteira, veio também o setor de transportes, um crescimento de 1,2%, cujo resultado em boa medida veio ligado ao do agro. “Transportes, por exemplo, refletiu muito a parte de safra, por isso não surpreendeu”, diz Sinigaglia, da Garde.
Para Sinigaglia, o setor foi beneficiado por condições favoráveis no clima e nos preços de commodities em patamar elevado — além do recuo nos preços de fertilizantes após alta generalizada no ano passado.
“Isso impulsionou a safra do primeiro trimestre, que é – de fato – a mais relevante do ano [soja]. Adiante, as condições permanecem favoráveis, tanto para o milho [safrinha] quanto para o açúcar. Logo, dinamismo do PIB no ano será impulsionado pelo PIB agro”, afirma.
Além do agro, diferentes velocidades de crescimento do PIB
O setor de informação e comunicação cresceram 6,8%, o do transporte, armazenagem e correio, 5,1%, bem como a intermediação financeira e seguros que cresceram 4,6%. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o PIB do setor de serviços cresceu 2,9%. Pesou nesse dado a base de comparação baixa do indicador no ano passado — pressionado pelas restrições da pandemia.
Também essencial na equação, o consumo das famílias cresceu 0,2% em relação ao último trimestre de 2022. “Há o efeito dos estímulos que foram dados na corrida eleitoral e ampliados na virada do ano”, diz Toledo, da LCA.
De fato, o Bolsa Família atualmente se tornou um programa muito maior. Dados do professor Ecio Costa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mostram que em março e abril — que não entra na conta do IBGE — o governo repassou R$ 28 bilhões em benefícios do Bolsa Família.
“O valor de R$ 13 a R$ 14 bilhões é muito maior do que o que se pagava antes da pandemia, que ficava em torno de R$ 3 bilhões. Fica muito próximo do Auxílio Brasil. Nesse período, a inflação foi muito forte e o poder de compra dos R$ 600 caiu”, afirma Costa.
Segundo ele, o aumento dos benefícios tende a incrementar o PIB por meio do consumo. “Mas geralmente isso traz a questão do ‘voo de galinha’. Quando você tem transferências e estímulo ao consumo, o PIB fica em patamar mais elevado”, diz.
Fonte: Exame e Canal Rural